por Aldem Bourscheit*
Decretado pelo governo federal em abril de 2009, o mosaico Sertão Veredas–Peruaçu reúne doze unidades de conservação federais, estaduais e particulares, além de uma terra indígena. São 1,5 milhão de hectares destinados à proteção da natureza distribuídos em onze municípios do norte e noroeste de Minas Gerais e sudoeste da Bahia. A região tem metade do tamanho do estado de Alagoas e, sem a zona de amortecimento no entorno das unidades de conservação, representa quase 8% da área hoje protegida no Cerrado.
Previstos na legislação federal, os mosaicos devem funcionar como pólos de desenvolvimento em bases que respeitem a ecologia regional, com gerenciamento integrado e participativo das áreas protegidas e seus entornos. Trata-se de algo fundamental para regiões como a do Sertão Veredas-Peruaçu, que abriga um dos mais belos patrimônios do Cerrado. Lá encontramos culturas e paisagens que inspiraram a literatura brasileira, sítios arqueológicos e cavernas, veredas, chapadas e campos, o ponto onde o rio Pandeiros forma o chamado Pantanal Mineiro, o curioso Vão dos Buracos e as águas vagarosas do São Francisco cruzando o sertão.
A implantação de uma “estrada-parque” com cerca de 400 quilômetros (hoje 85 são asfaltados), com passagens para animais, estacionamentos e mirantes, facilitará o acesso a locais que guardam parte da história e da cultura dos “Gerais” – antigamente treze milhões de hectares de vegetação conservada à margem esquerda do São Francisco, no norte e noroeste mineiro, oeste da Bahia, norte goiano, leste de Tocantins e sul do Piauí e do Maranhão.
Arquitetura preservada, festas e produtos regionais oriundos em grande parte do extrativismo e riquezas naturais incomparáveis têm grande potencial para melhorar a qualidade de vida em municípios predominantemente rurais onde o índice médio pobreza chega aos 60%. Os frutos do Cerrado local têm proporcionado a produção, venda e até exportação de óleo e polpa de pequi, artesanato, mel, doces, compotas e geléias, de araçá, cajá, mangaba, maracujá nativo e araticum.
Cooperativas de extrativistas e roteiros turísticos vêm sendo estruturados, mas o maior desafio para a implementação do mosaico será levar à região uma economia menos dependente da extração de Cerrado nativo para produção de carvão e lenha, atividade presente na maioria daqueles onze municípios.
A área também é visada para plantios somando pelo menos 500 mil hectares de eucaliptos, atividade que depende, no mínimo, de um zoneamento ecológico-econômico e de regras claras para seu licenciamento. No passado, plantios cobriram 1,5 milhão de hectares na região.
“A estruturação das equipes para fiscalização e administração das unidades de conservação (do mosaico) vão gerar centenas de empregos. Com o turismo ecocultural, teremos muitas outras atividades gerando renda com a venda de produtos regionais e prestação de serviços, como guias turísticos, transporte local, pousadas e restaurantes”, destacou em entrevista ao Jornal do Mosaico Cesar Victor do Espírito Santo, secretário-executivo doConselho Consultivo do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu e superintendente-executivo da Funatura – Fundação Pró-Natureza.
Entre 2006 e 2008, com recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e em parceria com o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais, Instituto Chico Mendes (ICMBio), prefeituras e entidades civis regionais, a Funatura elaborou um plano de desenvolvimento para o território do mosaico com diretrizes conservacionistas, focado na gestão integrada das unidades de conservação, no extrativismo sustentável e no turismo.
Está programado ainda para novembro o lançamento de um edital pelo FNMA para apoiar com R$ 4 milhões a implantação do plano de desenvolvimento. “Os recursos trazem a possibilidade de fortalecer o mosaico e seu território com uma identidade forte e desenvolvimento em bases sustentáveis, respeitando o meio ambiente e as tradições”, disse Rose Mary Paes de Araújo, do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Um acordo de cooperação entre o Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu e o parque natural francês Escarpe-Escout está sendo viabilizado pelo MMA para difundir na região brasileira experiências em gestão de territórios com base na valorização de riquezas naturais e culturais, algo já tradicional em terras francesas. A cooperação pode ser assinada até o fim do ano.
“Apoiaremos a consolidação do mosaico como forma de ampliar a proteção real das riquezas naturais e culturais do Cerrado, a formação com savanas mais rica em vida no planeta. O bioma tem papel importante no agronegócio brasileiro, mas o avanço da fronteira produtiva não pode seguir nos mesmos moldes que levaram à destruição de metade da vegetação nativa do Cerrado”, ressaltou Michael Becker, coordenador do Programa Cerrado Pantanal no WWF-Brasil.
Veja o mapa em tamanho maior.
16/11/2010