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História: José Lutzenberger

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18/09/2011

Para História Ambiental, natureza é protagonista e não coadjuvante

Novo ramo da Ciência avalia impacto das ações humanas no meio ambiente

Prof. Jose Padua UFRJ (Foto: Divulgação)
O professor Jose Padua é pioneiro no estudo da
História Ambiental  (Foto: Divulgação)
Homem e natureza nunca estiveram tão juntos. Pelo menos, nas pesquisas da História Ambiental, um ramo relativamente novo da História que estuda como a natureza impõe mudanças na sociedade e, por outro lado, como a sociedade lida com a presença da natureza em seus processos de desenvolvimento. Para a nova ciência, o meio ambiente tem um papel ativo, deixando de ser apenas um pano de fundo para as ações do homem. Considerado um dos precursores brasileiros na área de História Ambiental, José Augusto Padua, professor do Departamento de História da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que o desenvolvimento do novo campo faz parte de um movimento maior das Ciências Humanas, na tentativa de adotar modelos mais dinâmicos e interativos.

“Autores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Euclides da Cunha já faziam história ambiental, mas sem usar esse nome. Como campo de estudo, ele surgiu nos Estados Unidos nos anos 70/80 e tive a sorte de conhecer um dos pesquisadores pioneiros, o americano Warren Dean, que na época estava criando o campo de História Ambiental junto com outros pesquisadores americanos.  Ele era um brasilianista e escreveu um livro extraordinário, 'A Ferro e Fogo', no qual estuda a história das relações do homem com a Mata Atlântica. Dean foi uma pessoa muito importante na minha formação, era fascinante vê-lo trabalhando, pesquisando nos arquivos e fazendo pesquisa de campo, mesmo já com certa idade. Com ele aprendi que, para entender o que vivemos hoje, precisamos olhar para trás, reconstruir a trajetória humana”, ressalta o professor.

E é do ponto de vista da História Ambiental que o pesquisador explica tragédias como a que aconteceu em janeiro deste ano na Região Serrana do Rio, quando 900 pessoas morreram soterradas por deslizamentos de terra.

“Em 1987, uma tempestade na Região Serrana provocou a morte de 200 pessoas. Em 2011, uma chuva tão forte como aquela fez quase 1.000 vítimas. O que mudou de lá para cá? A ocupação desordenada cresceu. Os ricos querem ficar mais perto da natureza, fugindo dos grandes centros, e começam a construir casas de campo, clubes... Quem tem menos dinheiro também acompanha esse movimento para as serras, construindo habitações precárias. Quando a chuva vem, todos sofrem”, lamenta.

De acordo com o professor, atualmente as questões ambientais ganham repercussão global, mobilizando governos, cientistas e sociedade civil. Mas, se a visibilidade é maior, os problemas também são. “Os carros hoje são menos poluentes. No entanto, temos mais carros. Precisamos avançar mais, mudar nossas atitudes cotidianas, e não pensar no assunto só quando acontecem tragédias. A ignorância não é mais uma desculpa”.

Padua fez mestrado e doutorado em Ciência Política, no ex-Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e durante as pesquisas descobriu que já havia uma semente de consciência ecológica nos séculos XVIII e XIX. “Intelectuais como José Bonifácio, Joaquim Nabuco, Guilherme Capanema, entre outros, já discutiam temas que hoje fazem parte de nossa agenda ambiental. Ecologia não é um assunto importado, tem raízes profundas. Os intelectuais não usavam esse nome, mas criticavam o desflorestamento, as queimadas e o desperdício de recursos ambientais. Infelizmente, as idéias não se converteram em movimento social. Temos apenas uma ação concreta importante, a recuperação da Floresta da Tijuca, no século XIX. Na época a cidade sofria com a falta de água e D. Pedro II entendeu que o problema estava ligado ao desmatamento. O imperador determinou o reflorestamento, conduzido pelo Major Manuel Gomes Archer e o administrador Thomás Nogueira da Gama. Mais de 100 mil espécies de mudas foram plantadas. Pela primeira vez em nossa história, fizemos um projeto como esse”, explica o pesquisador, que transformou a pesquisa de doutorado no livro “Um Sopro de Destruição”, lançado em 2002. Mas essa não foi a primeira incursão do pesquisador no mundo literário. Em 1984, Padua lançou o livro “O que é Ecologia”, pela coleção Primeiros Passos, junto com Antonio Lago, obra que vendeu mais de 100 mil exemplares.

O professor, que trabalhou por seis anos no Greenpeace como coordenador da Área de Florestas da América Latina, antes de voltar para a vida acadêmica, atualmente compara a destruição da Mata Atlântica com a devastação da Amazônia. E não é otimista em relação ao futuro. “Perdemos quase toda a Mata Atlântica, só que ela demorou mais tempo para ser devastada. Já a Floresta Amazônica está sendo destruída muito rapidamente. Mas, o que ouço as pessoas falarem é: ‘Ah, temos muito mato ainda’. Existe o mito da natureza inesgotável e da fronteira sempre aberta. Vivemos a cultura de que podemos desmatar em nome do progresso. Quando não se pode tirar mais nada da terra, parte-se para outro ponto e a destruição recomeça. Temos que aprender a valorizar nossa natureza tropical, não basta cantar em verso e desprezar na prática. Espero que não precisemos perder a Amazônia como aconteceu com a Mata Atlântica para aprendermos a lição que a História Ambiental nos dá”, completa.

 

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