Rodrigo Vieira da Cunha - Vida Simples Edição Especial Verde - 12/2011 - É preciso confiar no processo quando se fala em sustentabilidade. Esse é meu grande e paradoxal aprendizado de uma década lidando com o tema. Confiar no processo da mudança é tudo, mas é pouco. É pouco porque não adianta apenas acreditarmos e praticarmos essa visão de mundo. É preciso conquistar cada vez mais gente para esse movimento.
Sustentabilidade, ou fazer mais com menos recursos, é um movimento de transformação cultural. Lento e compassado. Mas o que a ciência nos diz é que o tempo é curto. Daí, vem uma ansiedade de querer transformar comportamentos. De familiares, colegas de trabalho. Por algum tempo, achei que o caminho era o da cobrança. Cobrava minha família para apagar a luz, desligar a torneira enquanto escovavam os dentes, doar itens parados em casa. Quase virei um ecochato, um biodesagradável. Tudo que eu conseguia era criar antipatia e resistência.(Ilustração: Duda Lima)Foi a primeira vez que resolvi confiar no processo, deixar de cobrar - ou pelo menos tentar. E aí o tema começou a ganhar escala, virou assunto dos grandes jornais. Saiu do gueto. Foi quando sustentabilidade virou ecochic. Sacolas retornáveis de centenas de reais começaram a ser anunciadas, top models como Gisele Bündchen passaram a defender a causa. Arquitetos com projetos sustentáveis viraram desejo de consumo da elite. Eu achava que era a motivação errada: ser sustentável porque era moda. Mas o processo estava retroalimentando o sistema!
Grandes empresas passaram a concorrer em anúncios de TV e jornal clamando sustentabilidade há anos. De novo, a motivação errada: vender mais à custa da sustentabilidade. Então, caiu uma ficha importante quando li uma frase de Nelson Mandela: "Se você falar com um homem em uma língua que ele entende, a mensagem vai para a mente dele. Se você falar com um homem na língua dele, a mensagem vai para o seu coração".
Sustentabilidade é confiar no processo de que vamos encontrar a língua certa para motivar a mudança. Seja pelo bolso, seja pelo desejo de status, convicção, conveniência ou constrangimento. Não existe um discurso único ou uma verdade absoluta. E é por isso que gosto do TED e dos TEDx. A palavra sustentabilidade nem é tão frequente nas falas, mas ela está sempre lá, dita de muitas outras maneiras, encontrando os corações de milhões de pessoas. A essência de cada uma delas é espalhar ideias. Espalhar ideias para um mundo melhor. É uma utopia. E sustentabilidade é a utopia suprema. Só nos resta confiar no processo da mudança. E o papel de cada um na mudança, dando o exemplo para inspirar outros, é fundamental.
*O TED é uma conferência criada na Califórnia para espalhar ideias que valem a pena. TEDx é um programa que reúne eventos no espírito do TED organizados de forma independente. Para mais informações sobre o programa TEDx, visite ted.com/tedx.