Ontem passei no supermercado Extra próximo da avenida Paulista para umas compras e saí de lá – vamos dizer assim, com certo drama – escandalizado. O motivo foi me ver de frente com um imenso balcão de frios que exibia centenas (centenas mesmo) daqueles envelopes de plástico resistente e metalizado (parecido com o da imagem acima) que embalam a vácuo mortadelas, presuntos, salames, lombinhos canadenses e outros produtos fatiados.
Quando cheguei mais perto vi que as porções protegidas nos invólucros eram mínimas. Cada um deles continha, quando muito, seis fatias fininhas de frios. Muitos abrigavam nada mais do que 4 (quatro) esquálidas lâminas de presunto parma ou lombinho, cujo peso não chegava a 80 gramas, num verdadeiro desperdício de embalagens plásticas, a despeito da quantidade escassa do produto que guardavam.
Olhando ao redor avistei a “culpada” por toda aquela luxúria: uma funcionária atrás do balcão a fatiar as peças para depois depositá-las nas embalagens a vácuo com a ajuda de uma máquina diabólica, em uma linha de produção interminável. Sem contar que todos aqueles envelopes têm validade de dois ou três dias. Sabe-se lá para onde vão eles depois do prazo, caso não sejam arrematados pela clientela.
Nada contra a modernidade e todos os seus benefícios em prol da praticidade, mas me perguntei o que haveria de errado em apenas atender ao pedido de cada freguês cortando o alimento na hora para depois acondicioná-lo em papel, por exemplo.
Esses envelopes plásticos metalizados fazem parte do extenso rol de embalagens que cumprem sua missão em tempo recorde. Você os leva para casa, retira o produto de dentro e num piscar de olhos eles já estão no cesto de lixo. É, inclusive, questionável se a reciclagem desse material é viável, já que os envelopes ficam impregnados de gordura e para retirá-la seria preciso consumir alguns litros de água e bastante detergente.
Me deparei com esse cenário justamente na semana em que um acordo selado entre governo estadual e empresários do varejo pretende abolir, para muito breve, a oferta das sacolas descartáveis nos supermercados paulistas. A ação tem grande chance de se estender a outros ramos do varejo, caso os vereadores da cidade de São Paulo consigam um consenso, pois a discussão, felizmente, também chegou à câmara municipal nesses dias.
Ótima e esperada iniciativa – a exemplo do que já acontece em grandes cidades como Belo Horizonte e Rio de Janeiro – mas que não pode ficar pela metade. Afinal, de que adianta acabar com a orgia das sacolas descartáveis no caixa se chegamos até ele com o carrinho abarrotado dessas embalagens absolutamente dispensáveis que desperdiçam os recursos do planeta e, pior, ato contínuo vão emporcalhar o meio ambiente.
Como consumidores, será preciso prestar mais atenção a esses detalhes e tentar esquivar-se desses itens, operação nada fácil diante da falta de opções colocadas à nossa frente. Os supermercadistas, por sua vez, têm o dever ainda maior de não fazer uso dessa forma de acondicionamento de produtos, que inclue também as terríveis bandejas de isopor.
Parece, contudo, que muitos empresários do setor ainda sofrem de uma visão míope da situação. Tanto que o site do Extra ostenta um didático canal chamado Responsabilidade Socioambiental onde, entre outras informações, dá dicas de como encaminhar celulares, baterias e acessórios para a reciclagem. É um curioso paradoxo, ou alguma falta de bom senso. Fonte: Planeta Sustentável