REUTERS/KEVIN LAMARQUE - Donald Trump confirmou ontem a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, tornando-o num dos três países, a par da Síria e Nicarágua, que ficam fora do entendimento e distanciando-se dos seus aliados. Mas não exclui voltar, em termos ditados por Washington.
"Os Estados Unidos vão sair do Acordo de Paris para o Clima mas iniciar negociações para reentrar ou no Acordo de Paris, ou um negócio inteiramente novo, em termos que sejam justos para os Estados Unidos, as suas empresas, os seus trabalhadores, o seu povo, os seus contribuintes", afirmou o presidente norte-americano, que lidera a segunda nação mais poluidora do mundo, a seguir à China. "Se conseguirmos, ótimo. Se não, tudo bem", acrescentou. Esta saída do acordo não será imediata: Trump terá de dar início a um longo processo de desvinculação que não ficará concluído antes de novembro de 2020, o mesmo mês em que deverá ir a votos para a sua reeleição.
"Os EUA vão cessar imediatamente toda a implementação não vinculativa do Acordo de Paris", afirmou o presidente norte-americano, acrescentando que isso inclui o fim da implementação dos objetivos da redução do carbono estabelecidos por Obama e o fim das contribuições para o Fundo
Esta decisão foi criticada por Barack Obama, que acusou o seu sucessor de "rejeitar o futuro", sublinhando que esta decisão reflete "a ausência de liderança americana".
As grandes empresas americanas não ficaram também satisfeitas com o anúncio de Trump. Os líderes de 25 grandes empresas, num apelo de última hora, haviam endereçado uma carta ao presidente para que este mantivesse os EUA no acordo - entre eles estavam os CEO de gigantes como Apple, Google, Facebook, Microsoft e Unilever. Já o CEO da petrolífera ExxonMobil, Darren Woods, escreveu uma carta pessoal ao presidente dos EUA, na qual garantia que o país estava "bem posicionado para competir" com o estabelecido no acordo.
Como havia prometido, Elon Musk, o líder da Tesla, anunciou que abandona os seus cargos nos conselhos consultivos da Casa Branca, dizendo que "as alterações climáticas são reais. Deixar Paris não é bom para a América ou para o mundo".
Outros dos motivos pelos quais os EUA vão abandonar o acordo é, segundo Trump, pelo facto de ser mau para o emprego nos Estados Unidos, pois afetava a indústria do carvão e de outros combustíveis fósseis. Mas a questão é que iria estimular outras indústrias bem mais florescentes na economia dos EUA.
Segundo números do Departamento da Energia, citados pela CNN, a indústria do gás natural emprega 362 mil pessoas, a solar 374 mil e a eólica 102 mil. Já a indústria do carvão dá emprego a 164 mil funcionários, um número que tem vindo a descer há décadas. Os dados mostram ainda que a empregabilidade na indústria solar cresceu, em 2016, 17 vezes mais que o crescimento total do emprego.
A União Europeia e a China vão tentar hoje salvar hoje - no último dia da cimeira bilateral em Bruxelas - o Acordo de Paris, estreitando os laços em termos de políticas climáticas. Falando ontem em Berlim, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, sublinhou o forte apoio de Pequim ao acordo: "A China vai assumir as suas responsabilidades nas alterações climáticas".
Num comunicado apoiado por todos os 28 Estados membros, a UE a China comprometem-se com a total implementação do Acordo de Paris, adiantaram oficiais europeus e chineses. "A UE e a China consideram a ação climática e a transição para a energia limpa um imperativo mais importante do que nunca", irá constar do comunicado, assinado por Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, Jean-Claude Juncker, líder da Comissão Europeia, e Li Keqiang.