A nova "cara" do Brasil segundo os "representantes" do povo... |
Lembrei dela esse mês quando ouvi do Presidente da Câmara, Marco Maia, uma inconfidência pública sobre um estranho acordo, “vamos colocar em votação o Código Florestal porque foi o que combinamos para aprovar a Lei Geral da Copa”.
Assuntos nada a ver entre si, condicionados assim, são uma chantagem explícita de obstruir votações caso alguns interesses não sejam atendidos. Vamos abstrair o mérito da votação florestal, por um instante vamos supor hipoteticamente que os cientistas estejam errados nas suas previsões e a bancada ruralista esteja certa no que postula. Independente do mérito da questão, continua sendo uma chantagem dessa bancada, condicionar outras votações a essa. Quem perderia se a Lei da Copa fosse obstruída ? O governo, correndo o risco de se “desmoralizar” com o cancelamento de uma Copa do Mundo, sem precedentes ? Mas os deputados dessa mesma base não tem negócios múltiplos, que também vão obter vantagens com a Copa no Brasil ?
Das várias irracionalidades em jogo (desde desprezar as previsões científicas, até ameaçar os próprios negócios de 2014), o que fica claro mesmo é que o Congresso – e por decorência o país – depende desse tipo de “acordos” para funcionar. Nada mudou, nesse aspecto, nos últimos 20 anos, desde a frase que inspirou aquela música. Estamos reféns de uma maioria de “picaretas”, como dizia a música proibida ?
Escrevo sem saber o resultado da votação do dia 25 de abril. Na véspera, o mesmo Marco Maia e o PT haviam se colocado do mesmo lado das questões levantadas por PV e Psol contra o relatório apresentado. O resumo do noticiário é que “a oposição vem do PT, do PV e do Psol. Enquando o PT quer a aprovação da versão do Senado, os outros dois partidos são contra qualquer mudança na legislação atual”. Na votação anterior na Câmara, ano passado, a soma dos votos “ambientalistas” ficou em 63 deputados, contra os 410 deputados que votaram por menos restrições legais ao desmatamento. O que isso tem de paradoxal é que nas pesquisas de opinião pública o resultado é inverso, pois 70 % da população prefere manter as leis de proteção ao ambiente.
Imagino o que se passava na mente do Marco Maia quando fez a confidência pública do “acordo”. Era uma capitulação diante da força dos “ruralistas”? Não parece, pois durante a votação ele avisou que a Presidenta Dilma vetará a versão do relator, do PMDB, tomando o lado do PT nessa questão que está dividindo a “base aliada” do governo. Se não é capitulação, a frase de Maia sobre o acordo seria talvez uma confissão de fraqueza diante de um adversário mais forte, porque ainda mais influente na sociedade que a própria opinião pública. Talvez um alerta de que a sociedade não pode se acomodar e deixar o poder nas mãos dos seus deputados, sem se mobilizar, sem fiscalizar seus votos. Talvez, até, um pedido de socorro de quem está refém, deixando claro que todos estamos reféns, também.