DW.DE - A empresa Younicos está testando em Berlim como gerar energia sustentável para a ilha portuguesa de Graciosa, de 5 mil habitantes. Num galpão cinzento na capital alemã, a startup (empresa iniciante de tecnologia) desenvolveu um projeto inédito no mundo: construiu uma réplica da ilha do Atlântico, mas em proporção menor. Com a simulação, a Younicos busca uma forma de fazer com que ilhas como a de Graciosa possam se sustentar quase exclusivamente com a energia gerada por turbinas eólicas e painéis solares.
"Aqui, podemos simular a transição de ilhas para o uso da energia renovável", diz Philip Hiersemenzel, funcionário da empresa fundada em 2008.
De um lado do galpão de testes, estão instaladas dez sequências de uma rede de média tensão. Do outro lado, uma enorme sequência de baterias gigantes. Juntos, eles compõem o sistema de energia que substituirá um velho gerador a diesel em Graciosa em 2014.
Hoje, os habitantes de Graciosa dependem do petróleo: uma vez por semana, um petroleiro abastece os geradores da ilha.
Por outro lado, o gerador consegue manter a rede de energia em Graciosa estável – uma tarefa ainda difícil com o fornecimento de energia limpa, já que haverá alternância entre as fontes eólica e solar. "Se quisermos chegar a 100% de energias renováveis para abastecer a ilha, temos de ser capazes de desligar o gerador a diesel", afirma Hiersenmenzel.
Para que a distribuição por meio de energia eólica, que hoje é de 15%, aumente gradualmente para 70% na ilha, as enormes baterias precisam assumir a tarefa desempenhada pelo gerador a diesel. Elas servem para estabilizar as oscilações que poderão surgir com a variação de fontes de energia eólica e solar. "Graciosa será como uma orquestra onde tudo se resolve por si", explica Hiersemenzel.
"O mais importante em qualquer sistema fechado de fornecimento de energia é que a demanda por eletricidade esteja sempre no mesmo nível que a oferta." As baterias têm um papel fundamental, porque elas podem equilibrar a rede em milissegundos. "Algumas podem remover a eletricidade desnecessária e assim ajustar a oferta."
No centro do galpão de testes, há dois enormes blocos de baterias, cada um do tamanho de um elefante. Especialistas da empresa testaram 27 tecnologias de baterias diferentes. No final, acabaram se decidindo por baterias híbridas de íons de lítio e de sódio-enxofre. Elas entram em ação no caso de aparecerem nuvens repentinas sobre o parque solar ou se o consumo de energia aumentar de uma hora para outra.
Graciosa como modelo para o mundo
Para abastecer as baterias gigantes, Graciosa terá um parque eólico e uma instalação de painéis solares. Tudo será interligado por um software, que garantirá a coordenação descentralizada da produção e da distribuição da energia. Os especialistas acreditam que a ilha portuguesa possa servir de modelo para outros locais no mundo com até 10 mil habitantes, que não tenham ligação para abastecimento do continente.
"Em casos assim, em que a energia custa tão caro por causa do transporte e das estruturas relativamente ineficientes, montar um sistema baseado em fontes renováveis já vale a pena porque é mais barato", diz Björn Lang, que planejou o projeto.
Durante um teste em Berlim, representantes de fornecedoras de energia do arquipélago português dos Açores e autoridades portuguesas de energia observaram a possível nova rede elétrica da ilha, que custaria pelo menos 15 milhões de euros.
"O principal problema – como sempre acontece com a energia renovável – é o financiamento", ressalta Hiersemenzel. O projeto promete vantagens econômicas para os próximos 20 anos no mínimo, mas para isso seria preciso começar a pagar agora pela nova rede de Graciosa – e aí, surge o problema do financiamento.
Mas ele está certo de que a energia verde em ilhas pode valer a pena, principalmente para investidores externos. Seu plano é que os lucros com a energia limpa sejam usados para evitar a compra de diesel.
"Este lucro será dividido entre os fornecedores de energia locais e os investidores externos, que poderiam ter rendimentos entre 10% e 20%", explica.